Deck
O serrado
ao pensamento desvaira
e enquadra a luz a minha fotografia.
Atende-me o horizonte pontilhado
às nuvens entreabertas em brumas
e então, um azul provençal desmancha-se.
Minha sintonia corrigida
para ser espartana e
única.
Segue o meu desdém ao caminho leve do sopro...
Para que em mim renasça o que já foi denso e magnânimo.
Fantasia
Pareço coisa dura
sem nexo.
Fico margeando o tempo
suas resoluções e intempéries.
A clara água se abre.
O céu azul se matiza as árvores.
O vento brando e a luz.
Volta a zunir o ouvido.
O passado do ano ruim.
O desprezo.
A perda do nem imaginado.
Pertenço a dor latente
ao nada e ao avesso.
A seca da raiz.
Este sol.
A lua iluminada por completa
Estas estrelas intermináveis.
Este tempo que serena lá fora...
Magma.
O tempo.
O dia que nasce e que morre em mim.
A opressão e o encosto.
A saga do outro.
O dilúvio e o acidente.
A dor de cabeça e a dieta.
O luto e a dor.
A canção que me toma em desamor.
Há uma tristeza na alma.
Algo de poeta fingidor?
O rio se abre e suas águas se vão.
Quisera em mim o calcário
o coqueiro, a margem ciliar.
O magma.
A reclusa curva deste rio que se abre.
O último olhar e a fala.
A incontinência verborrágica da mente.
A desilusão e a carne viva.
Este peixe esquisito que me assombra.
Acordes
O que vive
nesta hora que dizima e
neste segundo nato.
O que compensa
e o que deságua
rio adentro.
O que me toca, abraça-me e beija-me
o que me atormenta e entristece
o que me faz sentir
e chorar.
Nada parece conter e fica preso
e eu sei que,
turva aquele dia para iniciar-se um outro.
Aquele sol primeiro da manhã agora nasce.
Acordou o novo quando eu queria o velho
a velha companhia, aquelas histórias e risos
aquele que só o menino conheceu e amou.
...este imaginário toma um banho de chuva
neste tempo escuro. Escuta a sinfonia do toque da água
nas plantas e na imaginação...
As águas vão se desaguar para nunca mais meu amor?
Dom Quixote sou eu
Serei arquétipo?
Meus atos de bravuras
minha seqüência de combates sem fim
e visões fantásticas de monstros e gigantes.
Sinto a dor latente sutilmente lançada entre as delícias
do sonho e a aspereza da realidade.
Serei o louco ou desalmado
que acredita e transforma,
serei a sina regida ao meu olhar.
Vencerei monstros a minha própria sombra
e tombarei como único ao seu lado.
Montanha azul
O cerrado desanda em chuvas.
O precipício e o frescor inundam
a calmaria esfuma a paisagem
e a água subtrai-se e enumera.
Começo a canção.
O olho comprido que sonda.
O suspiro do instante fadado
e a cor sucumbida em matizes.
Lava o solo
lavra-se.
O som que retumba
cala-se.
O que canto
pia
escorre
e vaga a divagação.
Lá na serra
a montanha em mim.
O peso
a leve bruma.
o limiar do nascer e da morte.
Araçari castanho
(Pteroglossus castanotis)
Hoje um pássaro.
O céu e a liberdade.
A vertigem liberta
inenarrável.
O pousar no alto da galhada
as folhas desenhadas
o sopé que extravasa.
O vento.
Minha casa enluarada
sombreia o leste.
Esta noite serei o inimaginável
para apalpar a realidade em instantes.
Tenho medo de noite profunda.
Sem estrelas
fantasmas podem seus devaneios
sobre porteiras e na pluma dos rios.
Na fazenda o touro
o peão domador
a matina orvalhada
e o começo para não ter fim.