sábado, 18 de dezembro de 2010

aizav

Living.


A casa está vazia.
Agora dorme o inesquecível ser
em alento vazio.
Lá fora estremecem dinossauros
em um tempo perdido.


O sono não adormece
e nem um cigarro é perdido.
Amanhã quando o novo aparecer
rangerá ao ouvido uma dor não esquecida.

               Marcos de Castro

A nau..



            Solavanco

Um terrível rio se aproxima.
Sua cor profunda precipita.
A margem pontua-se pequena.
Mártir ou suicida?

Poeiras estancam sobre a prateleira
Leitura velha, paredes descascadas.
Fotos e sombras.
O elefante enfurecido desperta
A nau deflagra e o rio o consome sem piedade.

Marcos de Castro

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

rememoro

Doce de leite

Doce de leite
Feito no tacho à lenha
Leite-açúcar-leite-mão-boa-mãe
Até que dê no ponto
Raspa-raspa-raspa
Do tacho com bocas nervosas
Depois virava compota
(o que ficava na compota a gente comia com o tempo)
(nesta mesma compota prezam-se as memórias)

Marcos de Castro

Estudos



Suave é o dia
o vento e a folha
o rio que corta e afaga.

A noite a primeira estrela
para poder sonhar...

Marcos de Castro

terça-feira, 30 de novembro de 2010

repetir

Off- white

No sonho moro em New York
Passeio pelo Central Park e ouço jazz
Meu inglês é perfeito
Tomo meu café no Abraço.

Sonho acordado em Bonito
O som que me condena a alma é indefinível
Meu português é perfeito
Mas sou mudo.

Me disseram para percorrer o mundo
Mas o pequeno
Encostra os meus pés.


           Marcos de Castro

Chechênia

Boca pequena.

Sou miúdo
Pedacinho de mim
Dúvidas acercam
Cisticercose.
Lua cheia paira na Chechênia.
O tempo das questões
As muralhas.

O reto e o coração
Os braços do rio
Unânime solidão.
Verde a copa da árvore
Sob a tangente luz solar
                Que me oculta e queima

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quero-queros

Irrecuperável

Quero a infância esquecida.
Quero a lembrança guardada.
Quero-queros estão nos pastos.

Sinto falta de mim mesmo,
sinto o que se perdeu.
Imensidão de relâmpagos me acordam.

Queria que esse tempo de agora fosse melhor
que o passado revirado em mim.

Marcos de Castro

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sunshine

Private sunshine

Sei de seu personagem e da sua ficção. Sua dor atravessa o romance como flecha. Suas noites são fugidas e sem sonhos. Na manhã só um pensamento, para virar um trilhão.
A sombra que o escurece, é permanente.
Parece só a dor responsável e única. Neste ano que se inicia, alongam-se passos furtivos pela casa, objetos e detalhes são revistos. Por um momento abre-se a porta da varanda.  Há uma árvore frondosa que venta e aponta...
A loucura babada sobre o travesseiro, o decomposto, o surreal, o nada tomado de oxigênio e cor.
Do fim nunca se sabe. O personagem é meu fingidor? A realidade é suposta?
O ouro brilha em dedos cintilantes. O provedor de tudo é certeiro em cada um.

Marcos de Castro

Extra!

Extra!

Dentro de mim brota o oco.
Mora o sapo engolidor.
O desespero e a terra de ninguém
são reflexivas.

Pessoas rastejam nesta festa.
Não estou sozinho.

Minha manhã polvilhada a milhas de Paris.
Minha noite se esquiva. Por onde andará?

Hoje nos matinais, via-se fotografadas socialites
e uma mazela de dor perfurada a bala.
Na memória o passado insiste
e o futuro designa fraturas e alucinações.

Marcos de Castro

lexos

O caminho de partida.


Comecei pensando em como deveria acordar naquele outro dia. Pálido ou corado, vesgo ou amputado. Ambos os sentimentos de impropriedade estavam ali estigmatizados e sem pudor. Mas ainda era noite. Estava então vivo e vestido de uma luz perene, quase sombra.  Vagava entre a alegria e algo muito atual, de sentimento ardido e sombrio.
Não me abstive de lágrimas, mas sim de surtos desafiadores. Procurei me reservar do passado para compreender magnitudes demasiadas. Cozer na madrugada como nunca e único. Coberto de uma solidão de horizonte no singular.
Vejo pendurada a parede o meu retrato. Quisera eu ali aniquilado para sempre. É este ser, de contemporâneos estranho e mesquinho quem me traz o oxigênio para o momento.

Morto àquele que no meio da madrugada é fingidor.

Reservei um copo de água gelada. O calor estava enlouquecido e desértico...
O oásis, o coqueiro solto na pequena ilha desenhada, o porteiro do prédio que soletra a minha possível entrada, o volante entorpecido de encontro ao motoqueiro, as ruas, os segredos, o arquiteto, o céu por cima, o plano sem horizonte...

O sono como redenção.


Marcos de Castro

...

Hiato

Por algo nem acontecido
sofro uma amargura de fragmentos
e medições em Beta.

.

Nem sei o que dizer
diante da intolerante margem quântica.
Vasto sou eu,
devasso e inapropriado
em terra não pertencida.

Marcos de Castro

terça-feira, 19 de outubro de 2010

...


Drama.


Vaga em mim o propósito.
Outrora o caminho leve e desapercebido.

Vago em dimensão atômica, descomunal.


Sine qua non o veludo pesado.



Marcos de Castro

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

...

Síntese

Chuva
Devagar os murmúrios
Ouvir calado
o que cai.


A árvore venta e leva a cor do ipê
A saudade ventada não inventa
A pequena coisa
A grande descoberta
Vieram do céu.


Marcos de Castro

terça-feira, 12 de outubro de 2010

allegoria

Allegoria

De olho
Vesgo ao mundo
Vago tempo percorrido
Nulo o rio verde e o céu de luar arrebatador
Seco solo caminhado
O que acontece?
O inexplicável e a alegoria
Bizarra alegoria.


Marcos de Castro

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

"Milhões de rosas para esta grave melancolia, milhões de rosas, milhões de castigos..." Mário de Andrade

Lira

Leve tempo
Ultra velocidade
Estou aqui.
É verdade que ontem quase chorei
Também pulsou a terra aos meus pés

De uma distância inenarrável
Sou depositado.
Vende-se pedaços de poesia
De risos e farta compania
Ainda que quase tenha acreditado
Que o mundo inexista a mim
Por não ter-me visto.


Marcos de Castro
Manhattan

A solidão encontrada ao parque
O cidadão que caminha pousa na terra o sonho
A cidade horizonta-se
O vento celebra as copas das árvores

Eu celebro a mim mesmo
O oco, a mediocridade
O ócio, o café curto
A ficção.


Marcos de Castro

"Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas, só o esquecimento é que condensa. E então minha alma servirá de abrigo." Mário de Andrade

Sombra

Só uma imagem
a que apresentou-se inquieta
ronda as matizes deste tempo
e sombreia o horizonte inquietante.

Outrora cantei sortilégios.
Canto agora para que a chuva caia
Insessante.
Nesta ávida água deposito fragmentos.
Para acordar.


Marcos de Castro

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

" O meu maior desejo é ficcional. Há realidade que se alastra e morre"

São exatamente.

Eu passo
a  vida.
Um passo atrevo
para viver.

O que não ter
suplico.
O tempo finita exatamente agora
e me engole.



 Marcos de Castro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Expurgo.

Expurgo.

Triste fim.
Depois que se foi é passado.
O adulto passeia a margem
seu redentor,  sua prece,  sua culpa.
A sombra da árvore ao ver o rio passar
enumera.

O peixe negro para ser pescado.


Ovelha.

Ovelha.

Norte.
E a cabeça escalda ao sol,
e o peito estarrece ao suor.
Domingo parece não me conter nunca mais.

Na alegria dominical é virtuosa a tristeza .

Off- white

Off- white

No sonho moro em New York
Passeio pelo Central Park e ouço jazz
Meu inglês é perfeito
Tomo meu café no Abraço.

Sonho acordado em Bonito
O som que me condena a alma é indefinível
Meu português é perfeito
Mas sou mudo.

Me disseram para percorrer o mundo
Mas o pequeno
Encostra os meus pés.

Musgo

Mousse
Le temps qu'il me refuseest longue.

La vie que je attribuer à une fictiondure un rêve.Particules déchaînement obscur en moimoi ce que là-bas.

"Le temps qu'il me refuse est longue"...


Musgo.

O tempo que me nega é comprido.
A vida que me atribuo como ser ficcional dura um sonho.
Em mim partículas obscuras deflagam o que de mim existe.


Entre sonhos e lucidez, as incertezas. Entre delírio e dever, as tempestades. Ai, para sempre serei teu prisioneiro, neste patíbulo amargo de saudades... José Paulo Paes

Sombra

Só uma imagem
a que apresentou-se inquieta
ronda as matizes deste tempo
e sombreia o horizonte inquietante.

Outrora cantei sortilégios.
Canto agora para que a chuva caia
Insessante.
Nesta ávida água deposito fragmentos.
Para acordar.



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Words.

O inesquecível passeia.
A vida revigora.
O amor carrega uma canção.
A saudade esquecida é um rincão de horizonte inimaginável.


            Solavanco

Um terrível rio se aproxima.
Sua cor profunda precipita.
A margem pontua-se pequena.
Mártir ou suicida?

Poeiras estancam sobre a prateleira
Leitura velha, paredes descascadas.
Fotos e sombras.
O elefante enfurecido desperta
A nau deflagra e o rio o consome sem piedade.



           Os adormecidos

Agora.
Depois de Cristo.
O tempo é parado, quase nulo.
As horas, o horário de verão,
As noites quentes e os peixes do rio.

O horizonte quando riscado de relâmpagos.
As árvores quando se ventam.
Os dias que escondem premissas futuras.
O que se mimetiza se aproxima.
            Dormir, acordar, despertar sem que se morra.
            (d.C)

Uma fileira imensa se abre.
E o matiz se penumbra ou colore.
O coqueiro é a torre.
E do alto,
Algo se apronta para nascer de novo.






Pífio

                        A felicidade
quisera eu.

A contra vento
o infortúnio de encontro.

A tristeza
que em mim está,
anula a realidade.

Nesse tempo que se alonga
penso intempéries suaves
para não poder desistir.





Anônima

Escuto o barulho da chuva,
                        há relâmpagos entrecortados
                        trotes de água deslizam o telhado
                        e o trovão tem alma e solidez anônima.

                        Torrencial
                        e a vida permanece inócua.
                        A visão se degenera e se transporta.
                        Há um mundo em cada
                        instante.

                        Embebido de torpor,
                        e de ficção,
                        imagino-me.
                       

                       
            Aeroformas


Solidão
esquecida e única.
Névoa em tempo comprido
inunda.

Esta vasta paisagem não tem fim.
Da janela este quadro
mimetiza-se.



O pequeno ser incrustado sobre o caminho de chão
ainda espera.





                        Ele.


O  tempo range.

O homem sem amor

serena.

As estrelas  caem solitarias no abismo.

O desenho do vulto sob a calçada

vai se apagando a cada amanhecer.





Faz chover.


Chove.

O cinza torrencial ofusca e, quase cego,

comprometo angústias e alucinações.

O invencível gira um mundo incrédulo e

uma anatomia disforme se apossa.

O infinito turva adiante.

A esquina não continua.

O legado de uma história

em uma não ficção.




Living.


A casa está vazia.

Agora dorme o inesquecível ser

em alento vazio.

Lá fora estremecem dinossauros

em um tempo perdido.



O sono não adormece

e nem um cigarro é perdido.

Amanhã quando o novo aparecer

rangerá ao ouvido uma dor não esquecida.



















Realidade guardada

Eu era pequeno. A chuva me assustava e cobria o telhado alto, relâmpagos desnorteados fotografavam os instantes entre telhas de vidro dispersas. O tempo
abocanhava poderosamente a minha vida.

O barulho das goteiras salpicando sobre o balde de aparar água de chuva.
O ronco do meu pai e o sono gostoso de minha mãe. Minha irmã mumificada entre os cobertores, pensando barulhos monstruosos iguais aos meus.

O que foi escrito nesta leva de tempo
anda perdido nos ares do armazém antigo.

O futuro reescreve outros indícios vividos,
mas eu ainda vivo ali,
daquelas memórias.










Poemas por Marcos de Castro - “Entre mi amor y yo han de levantarse trescientas noches como trescientas paredes y el mar será un milenio entre nosotros.” Jorge Luis Borges

Deck


O serrado
ao pensamento desvaira
e enquadra a luz a minha fotografia.

Atende-me o horizonte pontilhado
às nuvens entreabertas em brumas
e então, um azul provençal desmancha-se.

Minha sintonia corrigida
para ser espartana e
única.

Segue o meu desdém ao caminho leve do sopro...
Para que em mim renasça o que já foi denso e magnânimo.




            Fantasia
            
            Pareço coisa dura
sem nexo.
Fico margeando o tempo
suas resoluções e intempéries.

A clara água se abre.
O céu azul se matiza as árvores.
O vento brando e a luz.

Volta a zunir o ouvido.
O passado do ano ruim.
O desprezo.
A perda do nem imaginado.

Pertenço a dor latente
ao nada e ao avesso.
A seca da raiz.

Este sol.
A lua iluminada por completa
Estas estrelas intermináveis.
            Este tempo que serena lá fora...



 Magma.


O tempo.
O dia que nasce e que morre em mim.
A opressão e o encosto.
A saga do outro.

O dilúvio e o acidente.
A dor de cabeça e a dieta.
O luto e a dor.
A canção que me toma em desamor.

Há uma tristeza na alma.
Algo de poeta fingidor?

O rio se abre e suas águas se vão.
Quisera em mim o calcário
o coqueiro, a margem ciliar.
O magma.


A reclusa curva deste rio que se abre.
O último olhar e a fala.
A incontinência verborrágica da mente.
A desilusão e a carne viva.


Este peixe esquisito que me assombra.



Acordes

O que vive
nesta hora que dizima e
neste segundo nato.

O que compensa
e o que deságua
rio adentro.

O que me toca, abraça-me e beija-me
o que me atormenta e entristece
o que me faz sentir
e chorar.

Nada parece conter e fica preso
e eu sei que,
turva aquele dia para iniciar-se um outro.
Aquele sol primeiro da manhã agora nasce.

Acordou o novo quando eu queria o velho
a velha companhia, aquelas histórias e risos
aquele que só o menino conheceu e amou.

...este imaginário toma um banho de chuva
neste tempo escuro. Escuta a sinfonia do toque da água
nas plantas e na imaginação...
As águas vão se desaguar para nunca mais meu amor?





Dom Quixote sou eu

Serei arquétipo?
Meus atos de bravuras
minha seqüência de combates sem fim
e visões fantásticas de monstros e gigantes.

Sinto a dor latente sutilmente lançada entre as delícias
do sonho e a aspereza da realidade.

Serei o louco ou desalmado
que acredita e transforma,
serei a sina regida ao meu olhar.

Vencerei monstros a minha própria sombra
e tombarei como único ao seu lado.



Montanha azul

O cerrado desanda em chuvas.
O precipício e o frescor inundam
a calmaria esfuma a paisagem
e a água subtrai-se e enumera.

Começo a canção.
O olho comprido que sonda.
O suspiro do instante fadado
e a cor sucumbida em matizes.

Lava o solo
lavra-se.
O som que retumba
cala-se.

O que canto
pia
escorre
e vaga a divagação.

Lá na serra
a montanha em mim.
O peso
a leve bruma.
o limiar do nascer e da morte.


Araçari castanho
(Pteroglossus castanotis)


Hoje um pássaro.
O céu e a liberdade.
A vertigem liberta
inenarrável.

O pousar no alto da galhada
as folhas desenhadas
o sopé que extravasa.
O vento.

Minha casa enluarada
sombreia o leste.
Esta noite serei o inimaginável
para apalpar a realidade em instantes.


Tenho medo de noite profunda.
Sem estrelas
fantasmas podem seus devaneios
sobre porteiras e na pluma dos rios.

Na fazenda o touro
o peão domador
a matina orvalhada
e o começo para não ter fim.