O caminho de partida.
Comecei pensando em como deveria acordar naquele outro dia. Pálido ou corado, vesgo ou amputado. Ambos os sentimentos de impropriedade estavam ali estigmatizados e sem pudor. Mas ainda era noite. Estava então vivo e vestido de uma luz perene, quase sombra. Vagava entre a alegria e algo muito atual, de sentimento ardido e sombrio.
Não me abstive de lágrimas, mas sim de surtos desafiadores. Procurei me reservar do passado para compreender magnitudes demasiadas. Cozer na madrugada como nunca e único. Coberto de uma solidão de horizonte no singular.
Vejo pendurada a parede o meu retrato. Quisera eu ali aniquilado para sempre. É este ser, de contemporâneos estranho e mesquinho quem me traz o oxigênio para o momento.
Morto àquele que no meio da madrugada é fingidor.
Reservei um copo de água gelada. O calor estava enlouquecido e desértico...
O oásis, o coqueiro solto na pequena ilha desenhada, o porteiro do prédio que soletra a minha possível entrada, o volante entorpecido de encontro ao motoqueiro, as ruas, os segredos, o arquiteto, o céu por cima, o plano sem horizonte...
O sono como redenção.
Marcos de Castro