terça-feira, 30 de novembro de 2010

repetir

Off- white

No sonho moro em New York
Passeio pelo Central Park e ouço jazz
Meu inglês é perfeito
Tomo meu café no Abraço.

Sonho acordado em Bonito
O som que me condena a alma é indefinível
Meu português é perfeito
Mas sou mudo.

Me disseram para percorrer o mundo
Mas o pequeno
Encostra os meus pés.


           Marcos de Castro

Chechênia

Boca pequena.

Sou miúdo
Pedacinho de mim
Dúvidas acercam
Cisticercose.
Lua cheia paira na Chechênia.
O tempo das questões
As muralhas.

O reto e o coração
Os braços do rio
Unânime solidão.
Verde a copa da árvore
Sob a tangente luz solar
                Que me oculta e queima

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quero-queros

Irrecuperável

Quero a infância esquecida.
Quero a lembrança guardada.
Quero-queros estão nos pastos.

Sinto falta de mim mesmo,
sinto o que se perdeu.
Imensidão de relâmpagos me acordam.

Queria que esse tempo de agora fosse melhor
que o passado revirado em mim.

Marcos de Castro

terça-feira, 9 de novembro de 2010

sunshine

Private sunshine

Sei de seu personagem e da sua ficção. Sua dor atravessa o romance como flecha. Suas noites são fugidas e sem sonhos. Na manhã só um pensamento, para virar um trilhão.
A sombra que o escurece, é permanente.
Parece só a dor responsável e única. Neste ano que se inicia, alongam-se passos furtivos pela casa, objetos e detalhes são revistos. Por um momento abre-se a porta da varanda.  Há uma árvore frondosa que venta e aponta...
A loucura babada sobre o travesseiro, o decomposto, o surreal, o nada tomado de oxigênio e cor.
Do fim nunca se sabe. O personagem é meu fingidor? A realidade é suposta?
O ouro brilha em dedos cintilantes. O provedor de tudo é certeiro em cada um.

Marcos de Castro

Extra!

Extra!

Dentro de mim brota o oco.
Mora o sapo engolidor.
O desespero e a terra de ninguém
são reflexivas.

Pessoas rastejam nesta festa.
Não estou sozinho.

Minha manhã polvilhada a milhas de Paris.
Minha noite se esquiva. Por onde andará?

Hoje nos matinais, via-se fotografadas socialites
e uma mazela de dor perfurada a bala.
Na memória o passado insiste
e o futuro designa fraturas e alucinações.

Marcos de Castro

lexos

O caminho de partida.


Comecei pensando em como deveria acordar naquele outro dia. Pálido ou corado, vesgo ou amputado. Ambos os sentimentos de impropriedade estavam ali estigmatizados e sem pudor. Mas ainda era noite. Estava então vivo e vestido de uma luz perene, quase sombra.  Vagava entre a alegria e algo muito atual, de sentimento ardido e sombrio.
Não me abstive de lágrimas, mas sim de surtos desafiadores. Procurei me reservar do passado para compreender magnitudes demasiadas. Cozer na madrugada como nunca e único. Coberto de uma solidão de horizonte no singular.
Vejo pendurada a parede o meu retrato. Quisera eu ali aniquilado para sempre. É este ser, de contemporâneos estranho e mesquinho quem me traz o oxigênio para o momento.

Morto àquele que no meio da madrugada é fingidor.

Reservei um copo de água gelada. O calor estava enlouquecido e desértico...
O oásis, o coqueiro solto na pequena ilha desenhada, o porteiro do prédio que soletra a minha possível entrada, o volante entorpecido de encontro ao motoqueiro, as ruas, os segredos, o arquiteto, o céu por cima, o plano sem horizonte...

O sono como redenção.


Marcos de Castro

...

Hiato

Por algo nem acontecido
sofro uma amargura de fragmentos
e medições em Beta.

.

Nem sei o que dizer
diante da intolerante margem quântica.
Vasto sou eu,
devasso e inapropriado
em terra não pertencida.

Marcos de Castro