quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Poemas por Marcos de Castro - “Entre mi amor y yo han de levantarse trescientas noches como trescientas paredes y el mar será un milenio entre nosotros.” Jorge Luis Borges

Deck


O serrado
ao pensamento desvaira
e enquadra a luz a minha fotografia.

Atende-me o horizonte pontilhado
às nuvens entreabertas em brumas
e então, um azul provençal desmancha-se.

Minha sintonia corrigida
para ser espartana e
única.

Segue o meu desdém ao caminho leve do sopro...
Para que em mim renasça o que já foi denso e magnânimo.




            Fantasia
            
            Pareço coisa dura
sem nexo.
Fico margeando o tempo
suas resoluções e intempéries.

A clara água se abre.
O céu azul se matiza as árvores.
O vento brando e a luz.

Volta a zunir o ouvido.
O passado do ano ruim.
O desprezo.
A perda do nem imaginado.

Pertenço a dor latente
ao nada e ao avesso.
A seca da raiz.

Este sol.
A lua iluminada por completa
Estas estrelas intermináveis.
            Este tempo que serena lá fora...



 Magma.


O tempo.
O dia que nasce e que morre em mim.
A opressão e o encosto.
A saga do outro.

O dilúvio e o acidente.
A dor de cabeça e a dieta.
O luto e a dor.
A canção que me toma em desamor.

Há uma tristeza na alma.
Algo de poeta fingidor?

O rio se abre e suas águas se vão.
Quisera em mim o calcário
o coqueiro, a margem ciliar.
O magma.


A reclusa curva deste rio que se abre.
O último olhar e a fala.
A incontinência verborrágica da mente.
A desilusão e a carne viva.


Este peixe esquisito que me assombra.



Acordes

O que vive
nesta hora que dizima e
neste segundo nato.

O que compensa
e o que deságua
rio adentro.

O que me toca, abraça-me e beija-me
o que me atormenta e entristece
o que me faz sentir
e chorar.

Nada parece conter e fica preso
e eu sei que,
turva aquele dia para iniciar-se um outro.
Aquele sol primeiro da manhã agora nasce.

Acordou o novo quando eu queria o velho
a velha companhia, aquelas histórias e risos
aquele que só o menino conheceu e amou.

...este imaginário toma um banho de chuva
neste tempo escuro. Escuta a sinfonia do toque da água
nas plantas e na imaginação...
As águas vão se desaguar para nunca mais meu amor?





Dom Quixote sou eu

Serei arquétipo?
Meus atos de bravuras
minha seqüência de combates sem fim
e visões fantásticas de monstros e gigantes.

Sinto a dor latente sutilmente lançada entre as delícias
do sonho e a aspereza da realidade.

Serei o louco ou desalmado
que acredita e transforma,
serei a sina regida ao meu olhar.

Vencerei monstros a minha própria sombra
e tombarei como único ao seu lado.



Montanha azul

O cerrado desanda em chuvas.
O precipício e o frescor inundam
a calmaria esfuma a paisagem
e a água subtrai-se e enumera.

Começo a canção.
O olho comprido que sonda.
O suspiro do instante fadado
e a cor sucumbida em matizes.

Lava o solo
lavra-se.
O som que retumba
cala-se.

O que canto
pia
escorre
e vaga a divagação.

Lá na serra
a montanha em mim.
O peso
a leve bruma.
o limiar do nascer e da morte.


Araçari castanho
(Pteroglossus castanotis)


Hoje um pássaro.
O céu e a liberdade.
A vertigem liberta
inenarrável.

O pousar no alto da galhada
as folhas desenhadas
o sopé que extravasa.
O vento.

Minha casa enluarada
sombreia o leste.
Esta noite serei o inimaginável
para apalpar a realidade em instantes.


Tenho medo de noite profunda.
Sem estrelas
fantasmas podem seus devaneios
sobre porteiras e na pluma dos rios.

Na fazenda o touro
o peão domador
a matina orvalhada
e o começo para não ter fim.

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